A figura lendária na BD norte-americana morreu hoje aos 95 anos.
Stan Lee morreu hoje, aos 95 anos, confirmou o advogado da sua filha à Variety.
A lenda da Marvel deu entrada no hospital Cedars Sinai em Los Angeles esta segunda-feira de emergência e o seu óbito foi declarado pouco depois.
A 28 de fevereiro o próprio revelou em vídeo que estava a lutar contra uma pneumonia.
No início desse mês, também chegou a estar hospitalizado com falta de ar e batimentos cardíacos irregulares, tendo nessa altura tranquilizado os fãs e chegado a brincar com o facto de ter conseguido muita publicidade com a ida ao hospital.
Stan Lee é uma figura lendária na BD norte-americana, o símbolo máximo das histórias de super-heróis, que co-criou um modelo que subsiste até aos dias de hoje e que, na última década e meia, se tornou uma figura muito popular pelos “cameos” nos filmes do género, mesmo entre pessoas que nunca leram qualquer uma das histórias que escreveu.
Profissional da BD desde tenra idade, começou em 1939, aos 16 anos, como assistente na Timely Comics (que décadas depois se tornaria a Marvel Comics), e foi evoluindo na empresa primeiro para a posição de argumentista e mais tarde de editor.
Após uma aposta forte nos comic-books de super-heróis, durante a Segunda Guerra Mundial, com o Capitão América como personagem principal, a companhia transitou nos anos 50 para os westerns, o humor e os romances, com Lee a mostrar-se profícuo como escriba em todos os géneros.
A sua coroa de glória chegou no arranque dos anos 60, quando voltou a apostar a sério na BD de super-heróis, mas introduzindo um novo conceito: e se em vez das figuras titulares serem perfeitas e imaculadas, fossem afinal tão humanas e cheias de angústias, dúvidas e defeitos como os leitores? E se essas histórias, com tanto de épico espacial como de "soap-opera" do dia a dia, evoluíssem cronologicamente em vez de serem sempre fechadas e se tudo funcionasse num universo integrado, em que as personagens surgiam nas histórias umas das outras?
Com essa premissa, Lee co-criou, só na primeira metade da década de 60, a maioria dos super-heróis que fariam história na Marvel Comics. Em parceria com o virtuoso Jack Kirby, nasceram os Fantastic Four, Hulk, Thor, Homem de Ferro, X-Men e Vingadores, com Steve Ditko o Homem-Aranha e o Dr. Estranho, e com Bill Everett o Demolidor, tudo personagens que ainda hoje compõem a espinha dorsal do universo Marvel.
A reboque, aproveitou ainda para abordar temas como o racismo, a discriminação ou a toxicodependência, criando os primeiros super-heróis negros do "mainstream" do género e até afrontando o "Comics Code", o sistema de regulação de conteúdos dos comic-books que, na prática, funcionava com censor para toda a indústria.
O método de trabalho de Lee enquanto argumentista, que se tornou conhecido como “The Marvel Method”, ainda hoje gera desentendimentos sobre o real papel de cada colaborador no produto final: após uma discussão com o desenhador sobre o conteúdo de cada história, Lee escrevia uma sinopse da mesma, que o desenhador depois planificava como bem entendia cabendo no fim ao primeiro a tarefa de criar os textos nos balões e as legendas finais.
Como editor, Stan tornou-se rapidamente uma figura popular entre os leitores, assinado as respostas às cartas dos leitores, a que tratava por “true believers”, e uma coluna mensal, que terminava invariavelmente assinando “Excelsior”, que se tornou a sua imagem de marca. Ao longo da década de 60, o sucesso dos super-heróis da editora não parou de crescer, ultrapassando o publico habitual do género e conquistando os estudantes universitários.
A partir de 1972, Lee deixou de escrever regularmente para se dedicar à tarefa de editor e a partir da década de 80 mudou-se de Nova Iorque para Los Angeles, com o objetivo de tentar lançar os heróis Marvel no cinema e na televisão.
Apesar dessas tentativas terem sido quase sempre infrutíferas ou de resultados modestos, a popularidade continuou sempre a aumentar, principalmente nas convenções de fãs, onde era considerado quase um deus, e onde tinha uma capacidade ímpar de gerar empatia em quem o ouvia, tal era o entusiasmo contagiante com que sempre falava. No século XXI, a partir do sucesso planetário dos filmes “X-Men” e “Homem-Aranha” ter comprovado que a Marvel no cinema era uma possibilidade, Lee foi-se tornando uma figura cada vez mais popular.
Hoje em dia, com as fitas baseadas nas BDs da Marvel a serem as mais populares no mercado de cinema (algo que há duas décadas ninguém julgaria possível), as curtas aparições que fazia em cada uma delas tornaram-se momentos sempre muito ansiados pelos espectadores e fizeram dele uma celebridade mundial, mesmo junto de uma larga maioria de pessoas que nunca leram uma BD de sua autoria mas continuam a seguir os heróis que ele co-criou, tanto no cinema, como na televisão ou nas páginas de BD.
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